29 de dez. de 2009

Tragédia na Padaria. Refleti e repasso

Pena, que só em momentos de grande dor, velhos ensinamentos fazem sentido.
Pena, que só após perda irremediável e enorme tragédia, é que vamos ficar atentos, como em passe de mágica, nos tornamos solidários, pensativos, chorosos, arrependidos, tolerantes e até condoídos. Será que é algo que já faz parte da natureza humana, agir moralmente correto somente após um grande abalo nas fibras do coração? Porque que é só após? Porque quando estamos felizes, saudáveis, ricos, bonitos e sem a morte a nos espreitar, não tentamos viver moralmente corretos? Ser “Politicamente Correto” é novo, esta na moda e até virou Lei. Ser “Moralmente Correto” é velho, é da época do afonsim, como se diz lá em Nova Ponte, minha terra. - Eu nunca soube quem foi o Sr. Afonso, que em nosso mineirês vira afonsim. Deve ser antigo, coitado, pois quando desejamos dizer que algo é antigo e fora de moda, usamos a expressão afonsin.- A verdade é que agir “Moralmente Correto” é anterior ao afonsin, é milenar, é bíblico, mas, não esta na moda.

É! Agir politicamente correto é uma coisa, e, moralmente correto, é outra. Existe um abismo, uma fresta entre as duas atitudes. Quando qualificamos um ser humano de homossexual, afro descendente, idoso, portador de necessidades especiais e etc., estamos apenas agindo como bons cidadãos aos olhos de outros cidadãos, e porque agora é Lei, só isto. E lá no fundo? E lá em nosso coração? Será que gritando “viado miserável” realmente aliviaria nossa ira? No meu coração, vou falar por mim, que sei muito de mim: Sim, já houveram ocasiões que fui agredida e caluniada e eu realmente gostaria de ter gritado “viado miserável”, “ loura biscate”, “negão f d p” e outros. Não gritava, tinha medo do xilindró. Não gritava, mas pensava, ah! Como pensava. Hipócrita! Voltava para casa com aquela sensação ruim de quem perdeu a batalha, remoia aquele fato, contaminava meu organismo com o fel expelido, já explicado pela ciência. Coitados dos meus, na intimidade do lar, longe dos gambés, sobravam para eles as grosserias que o politicamente correto me impedia de fazer na rua. Hipócrita!

Mas, após várias tragédias e perdas irremediáveis, consegui ver uma ligação dos meus atos com minhas dores. Sim, dei um passo, pequenino, mas já é um passo na escala da evolução moral. Temos que ser brandos de coração, serenos por natureza e tolerantes todo o tempo. Temos que relevar as ofensas, não fomentar a discórdia, não esclarecer a calúnia, não valorizar uma fofoca e muito menos vingar agressões. Esta é minha receita de felicidade, e, acreditem, ela funciona. Parece muito simples, é simples mesmo, mas se aplicada com disciplina, que no início será difícil, tudo vai ficar parecendo que a gente é pateta, engole sapo etc., mas, depois verá que não é nada disto. A coisa se torna grande, rotineiro e automático. Parece que ficamos mais leves, passamos a conseguir da vida benefícios, que antes nos eram raros, os olhos da gente ficam mais redondos e meigos, as boas idéias nos vem com mais freqüência e passamos a ser mais agradáveis perante aos olhos dos outros, e isto, nos faz automaticamente, sinceramente de coração, politicamente corretos. Não é pratica esta receita? A vida melhora muito, dores e tragédias diminuem, e passam a acontecer, apenas aquelas que estão previstas em seu destino, ou seja, poucas.
Estou ainda na caminhada e na luta para melhorar. Às vezes tenho recaídas, meu lobo mal aflora, mas antes de fazer um estrago, reajo, reflito, vigio e oro.

Abaixo compartilho com vocês algumas palavras de dois seres maravilhosos, que nas horas de desespero e muita dor, lia para meu alívio e socorro, e que me fizeram pensar em meu modo de agir e, como este afetava minha vida:

“ - A paciência não é um vitral gracioso para as suas horas de lazer. É amparo destinado aos obstáculos do dia a dia;

- Pense muito, antes da discussão. O discutidor, por vezes, não passa de estouvado;

- Os outros colhem os frutos de nossas ações e oferecem-nos, de volta, as reações conseqüentes.
Daí, o cuidado instintivo em não ferirmos a própria consciência, seja policiando atitudes ou selecionando palavras, para que vivamos em paz à frente dos semelhantes, assegurando tranqüilidade a nós mesmos.

- A serenidade não é jardim para os seus dias dourados. É suprimento de paz para as decepções de seu caminho;

- A calma não é harmonioso violino para as suas conversações agradáveis. É valor substancial para os seus entendimentos difíceis;

- A tolerância não é saboroso vinho para os seus minutos de camaradagem. É porta valiosa para que você demonstre boa-vontade, ante os companheiros menos evolvidos;

- É razoável estejamos sempre cautelosos a fim de não estendermos o mal ao caminho alheio;

- Use a coragem, sem abuso. O corajoso, em muitas ocasiões, é simples imprudente;

- Seja forte na luta de cada dia. Não olvide, contudo, que muitos companheiros valentes são suicidas inconseqüentes;

- Atenda à afabilidade e à doçura em seu caminho. Não perca, porém, o seu tempo em conversas inúteis;

- Quantas sugestões infelizes teremos coagulado no cérebro dos entes amados, predispondo-os à enfermidade ou à delinquência com as nossas frases irrefletidas! Quantos gestos lamentáveis terão vindo à luz, arrancados da sombra por nossas observações vinagrosas!

-Precatemo-nos contra semelhantes calamidades que se nos instalam nas tarefas do dia-a-dia, quase sempre sem que venhamos a perceber. Esqueçamos ofensas, discórdias, angústias e trevas, para que a raiz da amargura não encontre clima propício no campo em que atuamos.

- Todos necessitamos de felicidade e paz; entretanto, felicidade e paz solicitam amor e renovação, tanto quanto o progresso e a vida pedem trabalho harmonioso e benção de sol.”

A Emmanuel e André Luiz, donos das palavras acima, agradeço do fundo de minha alma, a chance que tive de aprender com meus erros, graças aos seus esclarecimentos tão bem colocados nos momentos oportunos.
Que todos nós possamos equilibrar nossa justiça, subtraindo-lhe as inclinações para a vingança. Que possamos manter a calma e serenidade nos momentos mais difíceis de nossa vida. E podemos ter a certeza que o mundo melhor, será feito pelos brandos.


Helba Otoni

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